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Zola e a presença dos trabalhadores na literatura francesa

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Zola e a presença dos trabalhadores na literatura francesa I Espaço LER - Livraria

Mês de maio se inicia com uma data de extrema importância para os trabalhadores no mundo todo, pois em primeiro de maio festeja-se o Dia Internacional do Trabalho. A figura dos trabalhadores se faz presente também na literatura e teve em Zola seu grande expoente na literatura francesa.

Escritor francês do século XIX, ele soube muito bem representar o ambiente laboral. Zola, assim como Balzac e Stendhal, retratou a sociedade de modo mais próximo possível do real na época.

O desenvolvimento econômico, os problemas sociais (sobretudo aqueles ligados ao trabalho industrial), o surgimento do proletariado urbano, a mudança do campo para a cidade e as agitações políticas entram como tema na literatura francesa. Isso deve-se a influência do Sturm und Drang alemão ou por meio dos romances ingleses.

A literatura, deste modo, torna-se uma espécie de porta-voz do povo. Zola (1840-1902) mostra a dificuldade da vida cotidiana e protesta contra os determinismos sociais.

Diante desta onipresença de temas históricos e sociais, a literatura manifesta uma forma de angústia em suas personagens.

É necessário também evocar a corrente literária da qual Zola faz parte para entender melhor o conjunto de sua obra: o Naturalismo. O escritor é fascinado pelo papel da hereditariedade na constituição psicológica de uma pessoa portanto, para ele, o artista deveria colocar o espírito da pesquisa e do método em sua obra. Com base em Darwin (1809-1882), o autor expõe uma visão quase científica da literatura, já que ele crê que a sociedade, como a natureza, obedece leis de sobrevivência e de seleção.

Thérèse Raquin

A primeira obra considerada pertencente a esta corrente na França é Thérèse Raquin, romance publicado em 1867. Influenciado por positivistas, Zola quer observar os fatos sociais como fenômenos clínicos, experimentais. Como um hábil pintor, Zola retrata o povo, procurando mostrar a interação do homem com o seu meio,  a sociedade é vista como um imenso caso patológico.

Autodidata, Zola ocupa uma posição como jornalista e se interessa pelos acontecimentos de sua época. Ele retoma o projeto de Balzac de escrever uma “história natural e social” de seu tempo. Desta forma, ele retrata o universo do Segundo Império com várias personagens que irão aparecer em outras obras.

Les Rougon-Macquart 

Este vasto inventário, intitulado Les Rougon-Macquart (1871-1893) é ao mesmo tempo um testemunho e uma defesa do povo e dos trabalhadores. Para a concepção dos Rougon-Macquart, ele estabeleceu uma descrição completa da sociedade em diversas categorias: o povo (militar, operário), os comerciantes, a burguesia e um mundo à parte: prostitutas, assassinos, padres e artistas.

Em L’Assommoir (A taberna), Zola descreve o povo e os costumes dos operários, inclusive acontecimentos pós-traumáticos ligados ao trabalho.Coupeau, personagem do livro, sofre um acidente de trabalho e se entrega ao alcoolismo.

Em Germinal, obra-prima do autor, realiza-se um estudo antropológico do mundo da mineração. Durante meses, o escritor foi pessoalmente estudar o perfil dos mineradores e suas condições de trabalho.

Em resumo, podemos detalhar:

·     –    o mundo operário: Zola o descreve particularmente em Germinal, romance que tem como cenário a mineração no norte da França. Nesta obra, temos a figura de Étienne Lantier, filho de Gervaise Macquart (personagem de L’Assommoir [A taberna]). Étienne consegue um trabalho nas minas e luta junto com os demais mineradores contra a miséria e as condições de trabalho impostas pelos patrões. Os trabalhadores trabalham longas horas em condições insalubres, sem equipamentos de proteção e com baixos salários.

·       –  o mundo dos negócios: em La CuréeAu bonheur des Dames(O paraíso das damas)Pot-Bouille (A roupa suja) e Le ventre de Paris (O ventre de Paris), Zola descreve minuciosamente a pequena burguesia comerciante de Paris, o universo das finanças e da indústria. Por trás de grandes comércios, predominam-se a hipocrisia, a perversão e a corrupção.

·      –   o mundo do trabalho: os ateliers, as minas (Germinal), as ferrovias ( La bête humaine [A besta humana]), a bolsa ou o trabalho com o dinheiro (L’Argent [O dinheiro]), o trabalho da terra, o trabalho em grandes lojas (Au bonheur des Dames [O paraíso das damas]), o trabalho das prostitutas (Nana), o trabalho dos párocos (La faute de l’abbée Mouret [O crime do padre Mouret]).

No próximo artigo, tratarei um pouco das influências francesas na literatura brasileira e Zola, inclusive, está muito presente no período Realismo-Naturalismo brasileiro!

Autora: Katiuscia Cristina Santana

Zola e a presença dos trabalhadores na literatura francesa I Espaço LER - Livraria (1)
Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo. É professora de língua e literatura francesa em Mogi das Cruzes e em São Paulo.

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